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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Sucesso e Fracasso




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ÊXITO E FRACASSO

O estado normal da criatura é o de saúde, no qual o bem-estar e o equilíbrio proporcionam clima respirável de satisfação.

Elaborada para um ritmo harmônico de vida, a maquinaria fisiopsíquica obedece a automatismos precisos, dos quais resultam a saúde e as disposições emocionais, para galgar-se patamares reais elevados nos processos das aspirações idealistas.

Ser pensante, destaca-se a criatura na escala zoológica, compreendendo os mecanismos da vida e aplicando o conhecimento para os logros da autorrealização e da autoplenificação que lhe constituem o ápice da saúde.

Saúde seria, portanto, um fenômeno natural. Não fossem, do ponto de vista biopsicológico, as heranças genéticas, os fatores psicossociais, as ocorrências familiares e o convívio do lar, o ser não atravessaria os caminhos difíceis dos distúrbios e doenças perturbadoras.(...)

Passo a passo, desenvolvem-se os atributos da personalidade, ampliando-se os conteúdos da individualidade e aprimoram-se as aptidões latentes que são o germe da presença divina em todos.

Possuidor de recursos e potências não dimensionadas, o ser desabrocha e cresce sob as condições que lhe são inerentes, cabendo-lhe seguir o heliotropismo superior que o leva à sua destinação gloriosa.

Impregnado pelas partículas e moléculas materiais que o vestem, enquanto reencarnado, não raro a visão do êxito apresenta-se-lhe distorcida, caracterizando-se como o deleite contínuo, resultante dos prazeres hedonistas(1) que a posição social relevante e o poder político-econômico proporcionam, ensejando um prolongado desfrutar.

Esquecendo-se da impermanência de tudo e da fugacidade do tempo — pelo qual apenas transita, na sua dimensão de eternidade — desgasta-se, envelhece, adoece e morre... O imprevisível surpreende-o, e surgem-lhe a saturação, o desinteresse, os sentimentos apaixonados e os frustrados, proporcionando desequilíbrios interiores que se expressarão em tormentos para si e para os outros no inter-relacionamento pessoal.

Na busca do êxito, o ser, psicologicamente imaturo, investe todos os valores, e na competição encontra o estímulo para galgar os degraus do destaque, descendo moralmente, na escala dos padrões, à medida que ascende na aparência.

Essa dicotomia de ocorrências — a interna e a externa — resultará em infelicitá-lo, perturbando-lhe o senso de avaliação e de consideração da realidade, talvez ferindo profundamente a pessoa.

Caça-se o êxito como se fosse, na floresta humana, o objetivo essencial à vida, confundindo-se triunfo de fora com realização de harmonia interior.

Denigre-se então o adversário, que não o sabe, tornado assim por estar à frente ou mais alto; segue-se-lhe o passo, ocupando-lhe o lugar imediatamente inferior por ele deixado, até emparelhar-se-lhe e derrubá-lo, assumindo-lhe a posição.

Inevitavelmente, porque não permanecem espaços vazios nos relacionamentos humanos, enquanto, por sua vez ascende, deixa o degrau aberto que logo estará ocupado por aqueloutro que lhe será o substituto.

O triunfo de hoje é o prólogo do desencanto e das lágrimas de amanhã; sorrisos se tornarão esgares(2), e aplausos far-se-ão apedrejamentos, considerando-se, na população humana, as mesmas aspirações e os equivalentes conflitos. (...)  

Convém determinar-se que o êxito material pode significar fracasso emocional, espiritual, e, às vezes, o insucesso, a aparente falta de triunfo constitui a plena vitória sobre si mesmo, suas paixões e pequenezes, uma forma de opção para o crescimento interior, ao invés do empenho pelo amealhar(3) de moedas e reunião de títulos que não acalmam as emoções nem tranquilizam as ambições.

Certamente, a criatura deve possuir e dispor de recursos necessários para uma vida saudável, consentânea(4) com o grupo social no qual se encontra. No entanto, o êxito não pode ser medido em contas bancárias, prestígio na comunidade e destaque político. Da mesma forma, não é factível definir-se por fracasso a ausência desses troféus.

Os homens e mulheres plenos, vitoriosos de todos os tempos, venceram-se, completaram-se e, sem qualquer tipo de conflito, optaram pela realização interior, respeitando todas as aspirações e direitos dos demais indivíduos, porém, a eles próprios impondo-se a autorrealização que lhes propiciou saúde — mesmo quando enfermos —, felicidade — embora perseguidos algumas vezes — e êxito — isto é, a vitória no que anelavam, apesar de levados ao martírio.

A visão transpessoal do êxito e do fracasso está ínsita(5) na pessoa interior, real, a criatura harmonizada consigo mesma, com as outras pessoas, com a natureza e a vida.  

Êxito é encontro, enquanto fracasso é domínio pelo ego.
O êxito gera paz, e o fracasso inquieta.

Autoanalisando-se, cada qual se descobre, assim dando-se conta do triunfo ou do insucesso, podendo recomeçar para alcançar o êxito, nunca o fracasso.

(Joanna de Ângelis. O ser consciente. Cap. 3 – Problemas e desafios)

1 Hedonismo: doutrina ética, ensinada por antigos epicureus e cirenaicos e por modernos utilitaristas, que afirma constituir o prazer, só ou principalmente, a felicidade da vida. (Dicionário Michaelis)
2 Esgar: careta, gesto ridículo, trejeito, disfarce, hiprocrisia.
3 Amealhar: ajuntar.
4 Consentâneo: adequado, apropriado.
5 Ínsito: inerente, inserido.


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SUCESSO E FRACASSO

O homem tem necessidade de enfrentar desafios. São eles que o impulsionam ao crescimento, ao desenvolvimento de suas aptidões e potencialidades, sem o que permaneceria sem objetivo, relegando-o ao letargo(6), à negação da própria mecânica da vida que se expressa como evolução.

À medida que se lhe vai operando o amadurecimento psicológico, mais amplas perspectivas surgem nas suas paisagens mentais em forma de aspirações que se transformam em lutas motivadoras da existência. Cada etapa vencida faculta novos rumos a percorrer e o seu transcurso é realizado a esforço que o ideal do sucesso propõe. A princípio são metas próximas, não obstante se possam ambicionar outras mais expressivas, mesmo que remotas, porém prenunciadoras de vitórias imediatas.

O que está próximo e fácil não constitui grande desafio nem forte motivação para ser conseguido, pois sucede com mínimo esforço, deixando, quando logrado, um certo travo de frustração.

Enquanto se acalentam ambições nos padrões da realidade do possível, se vive motivado para prosseguir. O seu desaparecimento faz-se morte existencial. Dessas objetivações realizáveis surgem projetos mais audaciosos, considerados então impossíveis, que a tenacidade(7) e a inteligência ao esforço conseguem alcançar.

A conquista da roda inicialmente mudou a fase do planeta. A fundição dos metais, a eletricidade e suas inumeráveis aplicações alteraram completamente o mundo terrestre, que deixou de ser conforme se apresentava para ressurgir com aspecto totalmente novo. Os desafios do micro e do macrocosmo, que estão sendo vencidos, alteram, com os recursos avançados da ciência e da tecnologia, a cultura, a civilização e a vida nas suas diversas expressões.

Certamente, a precipitação emocional, as graves patologias orgânicas, psicológicas e psíquicas, algumas resultado dos atavismos(8) e das fixações ancestrais, não permitiram, por enquanto, que se instale na sociedade a felicidade, nem no próprio indivíduo a harmonia, o prazer não agressivo nem extravagante. A morbidez que campeia tem-nos dificultado.

Apesar dos sucessos conseguidos em muitos setores, outros permanecem obscuros, aguardando. Passos audaciosos já foram dados, favorecendo o bem-estar e ampliando os horizontes existenciais.

Lenta, mas seguramente, o homem sai da caverna, tem sucesso ao diminuir as sombras por onde transita e desenha um radioso futuro. Os vestígios de barbarismo, o predomínio da natureza animal, a perseverança da apatia, vão sendo substituídos pelos anelos de liberdade, pelos ideais de autoiluminação, de progresso, de amor, que se lhe desdobram no imo como um hino de alegria, uma saudação estuante(9) de júbilo, um êxito em relação às condições hostis e às tendências perturbadoras.

Saturado do habitual aspira pelo inusitado. Apaixonado pelo bom, pelo nobre, pelo belo liberta-se, a esforço que supera a vulgaridade, o tédio, o ego dominador. Harmoniza o Self com o Cosmos e busca integração no conjunto geral, sem perda de identidade, nem de individualidade.

O sucesso é sempre o prêmio para quem luta e aspira por ascensão, poder, destaque. Não se tratam de buscas egóicas, mas de instrumentos de uso para conseguir a vigência dos ideais.

O poder é ferramenta neutra. A aplicação que lhe é dada responde pelos efeitos que produz. Proporciona os meios hábeis para as realizações, abrindo portas e ensanchas(10), a fim de que a vida se torne mais significativa.

Ter, possuir para manter-se com dignidade, em segurança econômica, social, emocional, é um sentido existencial através do qual se harmonizam algumas necessidades psicológicas.

Qualquer tipo de carência aflige, e quando se faz pronunciada, expressando-se em um meio social ou em uma situação econômica angustiante leva a crises desestruturadoras do comportamento.

O sucesso significativo, porém, se expressa como a atitude de equilíbrio entre o conseguir e o perder. Nem sempre todas as respostas da luta são positivas, de triunfo.

O fracasso, desse modo, faz parte integrante do comportamento da busca. Não se deter, quando por ele visitado, retirar a lição que encerra, analisar os fatores que o produziram, a fim de que não se repita, e recomeçar, quantas vezes se faça necessário, eis a forma de torná-lo um sucesso verdadeiro.

A rebelião ante a sua ocorrência, a desestruturação íntima, a perda do sentido da luta, além de constituírem prejuízo emocional, representam fracasso real. O insucesso de um cometimento pode tornar-se experiência que predispõe ao triunfo próximo.

Na estratégia bélica, vencer a guerra é a meta, e não somente ganhar batalhas. O importante e essencial, no entanto, é sair vitorioso na luta final, aquela que define o combate.

O homem de sucesso ou de fracasso exterior deve vigiar o comportamento íntimo para detectar como se encontra realmente, e remanejar a situação.
Produzir a harmonia entre o eu superior e o ego é que realmente representa sucesso ideal.

(Joana de Ângelis. Amor, imbatível amor. Cap. 6 - Objetivos conflitivos)

6 Letargo: torpor, sono profundo.
7 Tenacidade: persistência.
8 Atavismo: semelhança com antepassados.
9 Estuante: ardente, febril.
10 Ensancha: porção de pano que se deixa a mais na costura, para futuro alargamento, se for preciso. (Dicionário Michaelis)


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O EXEMPLO DE THOMAS EDSON

Um repórter perguntou a Thomas Edison como ele se sentia por ter falhado 10 mil vezes na sua tentativa de criar uma simples bateria. Ele respondeu: "Não sei por que você acha que foi um fracasso. Hoje eu conheço 10 mil maneiras de como não fazer uma bateria. E você, o que sabe?”.

Fracasso e sucesso dependem do ponto de vista. Thomas Edison foi provavelmente o maior inventor norte-americano.

Quando foi para a escola na cidade de Port Huron, em Michigan, os professores reclamaram que ele era "lerdo" e indisciplinado. Dada a situação, sua mãe decidiu retirá-lo da escola e educá-lo em casa.

O jovem era fascinado por ciência. Aos 10 anos de idade já tinha montado o seu primeiro laboratório de química.

A energia inesgotável de Thomas Edison, bem como o seu gênio (que segundo ele era "1% inspiração e 99% transpiração") o levaram a mais de 1300 invenções. A invenção da lâmpada incandescente lhe custou 2 mil tentativas.

Ao ouvir a pergunta de um jovem sobre como se sentia por ter falhado tanto, ele respondeu: "Eu não falhei nenhuma vez. Inventei a lâmpada incandescente, só que foi um processo com 2 mil etapas."

O laboratório de Thomas Edison foi destruído por um incêndio em dezembro de 1914.

Apesar do prejuízo passar de 2 milhões de dólares, o seguro dos prédios era de apenas 238 mil dólares, já que eram de concreto e, sendo assim, considerados à prova de fogo. Naquela noite, grande parte do trabalho de uma vida inteira virou fumaça.

Com o incêndio no auge, Charles, seu filho de 24 anos de idade, procurava desesperadamente o pai por entre a fumaça e todo o entulho.

Finalmente o encontrou: observando o espetáculo, à luz do fogo e com os cabelos brancos esvoaçando ao vento.

"Eu senti a maior dó", disse Charles. "Ele tinha 67 anos de idade, não era mais jovem, e estava perdendo tudo. Mas ao me ver gritou: 'Charles, cadê a sua mãe?' Quando lhe disse que não sabia, ele me mandou procurá-la. ‘Traga-a aqui, porque ela nunca vai ver algo assim em toda a sua vida'.”

No dia seguinte, contemplando as ruínas, o inventor declarou: "Uma catástrofe é algo muito valioso. Todos os nossos erros viraram fumaça. Graças a Deus podemos começar tudo de novo."

Três semanas após o incêndio, Thomas Edison conseguiu apresentar o seu primeiro fonógrafo(11).

(Autor desconhecido)

11 Fonógrafo: instrumento que grava e reproduz a voz e outros sons.


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DIAS DE SOMBRA

Coincidentemente, há dias que se caracterizam pela sucessão de ocorrências desagradáveis. Nada parece dar certo. Todas as atividades se confundem e os fatos se apresentam deprimentes, perturbadores. A cada nova tentativa de ação, outros insucessos ocorrem, como se os fenômenos naturais transcorressem de forma contrária.

Nessas ocasiões as contrariedades aumentam e o pessimismo se instala nas mentes e nas emoções, levando-as a lembranças negativas com presságios deprimentes.

Quem lhe padece a injunção tende ao desânimo e refugia-se em padrões psicológicos de autoaflição, de infelicidade, de desprezo por si mesmo.

Sente-se sitiado por forças descomunais, contra as quais não pode lutar, deixando-se arrastar pelas correntes contrárias, envenenando-se com o mau humor.

São esses, dias de provas, e não para desencanto; de desafio, e não para a cessação do esforço.

Quando recrudescem as dificuldades, maior deve ser o investimento de energias, e mais cuidadosa a aplicação do valor moral na batalha.

Desistindo-se sem lutar, mais rápido se dá o fracasso, e quando se vai ao enfrentamento com ideias de perda, parte do labor já está perdido.

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Nesses dias sombrios, que acontecem periodicamente, e às vezes se tornam contínuos, vigia mais e reflexiona com cuidado.

Um insucesso é normal, ou mesmo mais de um, num campo de variadas atividades. Todavia, a intérmina sucessão deles pode ter gênese em fatores espirituais perniciosos, cujas personagens se interessam em prejudicar-te, abrindo espaços mentais e emocionais para intercâmbio nefasto contigo, de caráter obsessivo.

Quanto mais te irritares e te entregares à depressão, mais forte se te fará o cerco e mais ocorrências infelizes tomarão forma.

Não te debatas até a exaustão, nadando contra a correnteza. Vence-lhe o fluxo, contornando a direção das águas velozes.

Há mentes espirituais maldosas, que te acompanham, interessadas no teu fracasso. Reage-lhes à insídia(12) mediante a oração, o pensamento otimista, a irrestrita confiança em Deus.

Rompe o moto-contínuo dos desacertos, mudando de paisagem mental, de forma que não vitalizes o agente perturbador.

Ouve uma música enriquecedora, que te leve a reminiscências agradáveis ou a planificações animadores.

Lê uma página edificante do Evangelho ou de outra Obra de conteúdo nobre, a fim de te renovares emocionalmente.

Afasta-te do bulício e repousa; contempla uma região que te arranque do estado desanimador.

Pensa no teu futuro ditoso, que te aguarda.
Eleva-te a Deus com unção e romperás as cadeias da aflição.

Há sempre Sol brilhando além das nuvens sombrias, e, quando ele é colocado no mundo íntimo, nenhuma ameaça de trevas consegue apagar-lhe, ou sequer diminuir-lhe a intensidade da luz. Segue-lhe a claridade e vence o teu dia de insucessos, confiante e tranquilo.

(Joanna de Ângelis. Momentos de Saúde. Cap. 14)

12 Insídia: cilada, emboscada.