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* PERDA DO SENSO DE HUMOR
Poder encarar
as situações vexatórias sem revolta nem autocompaixão, considerando-as
fenômenos naturais do processo evolutivo; identificar-se humano e passível de
todas as ocorrências; aceitar com bom humor os acontecimentos inusitados e
permitir-se sorrir de si mesmo, dos equívocos cometidos e dispondo-se a
repará-los, constituem conquistas do auto-amor.
O amor, no seu
elenco imenso de expressões, sustenta o senso de humor, facultando ao indivíduo
possibilidades enriquecedoras, dentre as quais a alegria da vida como quer que
esta se apresente, a compreensão das falhas alheias e próprias, a coragem para
repetir as experiências fracassadas, até alcançar o êxito e, sobretudo, o
preenchimento dos espaços íntimos com realizações edificantes.
A perda do
senso de humor, entre outras causas, resulta do estresse e da amargura, do
desgaste das emoções e do vazio existencial, colimando em condutas pessimistas,
caracterizadas pela revolta sistemática, a agressividade diante de quaisquer
incidentes, ou pelo desânimo, pelo desinteresse em torno das ocorrências.
Descaracterizam-se então, os valores perante si mesmo, e as aspirações cedem
lugar à acomodação rebelde, conspirando contra as estruturas íntimas.
(...)
O senso de
humor estimula ao prosseguimento dos objetivos, vencendo dificuldades e
obstáculos com o otimismo de quem confia em si, nas próprias possibilidades e
na capacidade de renovar-se para não estacionar. Trata-se de um parâmetro para
aquilatar-se a condição em que se encontra e as disponibilidades ao alcance para
vencer.
(...)
A
vida moderna, com as suas sofisticadas exigências, propicia muitos conflitos
que podem ser evitados mediante a autoconsciência e a vivência do senso de
humor, isto é, a forma natural e positiva para encarar as ocorrências do
cotidiano. Não se trata do humor que decorre do anedotário[1],
da chalaça[2],
da momice[3],
dos relatos pejorativos e de sentido pífio[4].
Mas, dessa
autêntica jovialidade para compreender-se e compreender aos demais, encarando a
existência com seriedade, mas sem carranca, com alegria, mas sem vulgaridade,
emocionalmente receptivo às lições e complexidades dos processos da vida.
A perda desse
sentido mergulha o indivíduo no fosso da autodestruição, que arquiteta,
conscientemente ou não, como fuga existencial ou capricho infantil, de quem
sente falta da mãe superprotetora, anteriormente encarregada de solucionar todos
os problemas do filho, o que deu surgimento à insegurança, ao desequilíbrio, não
lhe permitindo o desenvolvimento psicológico.
A aquisição
como a preservação do senso de humor tornam-se essenciais para a vitória do
homem sobre os conflitos modernos e o direcionamento para a conquista da
plenitude.
(Joana de Angelis. Amor, imbatível amor. Cap. 7 –
Tormentos modernos. Perda do Senso de humor)
* MAU HUMOR
Realizando um périplo[5] que se inicia na forma de princípio inteligente, o Espírito
cresce insculpindo conquistas e desacertos no âmago da sua realidade, definindo
formas, contornos e conteúdos, à medida que avança na esteira multifária[6] da evolução.
Cada etapa se
assinala por específica realização que se lhe torna patamar de sustentação para
novo passo, crescendo, a pouco e pouco, no rumo da autoconquista.
O
desenvolvimento psicológico ocorre-lhe lentamente, plasmando-se através das
experiências que lhe desabrocham as potências adormecidas e que são elementos constitutivos
da sua realidade transcendental.
De acordo com
a iluminação, e o discernimento conseguido, adquire consciência de culpa em
decorrência dos atos praticados, transferindo para os novos cometimentos a
necessidade de recuperação da tranquilidade perdida, que é o recurso hábil para
a saúde integral.
O ser
essencial é amor, no entanto, no processo de despertamento da sua potencialidade
divina, adquire expressões não legítimas, que passam a atormentá-lo, já que
fazem parte do processo de maturação através de negatividades, que são o
desamor e as máscaras do ego, expressando-se como pseudo-amor.
Face a esses
mecanismos, com frequência as insatisfações e conflitos dão curso a estados
desagradáveis de comportamento, que se podem transformar em enfermidades da
alma, ou, em razão de suas raízes profundas no ser, exteriorizam-se como
máscaras do ego, como negatividades, decorrentes dos desequilíbrios da conduta
anterior.
O mau humor,
que resulta de distúrbios emocionais profundos ou superficiais, se instala de
forma sutil e passa a constituir uma expressão constante no comportamento do
indivíduo. Pode apresentar-se com caráter transitório ou tornar-se crônico,
convertendo-se em verdadeira doença, que exige tratamento continuado e de longo
prazo.
Por trazer as
matrizes inseridas nos tecidos sutis da realidade espiritual, transfere-se do
campo psíquico para a organização somática através da hereditariedade, que
responde pela sua fixação profunda, de caráter expiatório.
Em casos tão
graves, a terapia psiquiátrica é convocada a auxiliar o paciente, que se lhe
deve entregar com cuidado, ao mesmo tempo alterando o modo de encarar a vida, o
mundo e as pessoas, mediante cujo esforço renovará as paisagens íntimas e
elaborará novos painéis que lhe darão cor e beleza existenciais.
Caracteriza-se
o mau humor pela apatia que o indivíduo sente em relação às ocorrências do
dia-a-dia, à dificuldade para divertir-se, aos impedimentos psicológicos de
atingir metas superiores, de bem desempenhar a função sexual, negando-se à
mesma ou atirando-se desordenadamente na busca de satisfações além do limite,
mediante mecanismo de fuga em torno da própria problemática. Torna-se, dessa
forma, pessoa solitária, egoísta, amarga...
Tais
características podem levar a um diagnóstico equivocado de depressão, que se
caracteriza por alternâncias de conduta, enquanto que no estado de humor
negativo a conduta é qual uma linha reta, desinteressante, sem emoção,
permanecendo constante, enquanto que na depressão a mesma desce em fase
profunda ou ascende, podendo libertar-se com relativa facilidade.
O oposto, o
excesso de humor, também expressa disfunção orgânica, revelando-se em traços da
personalidade em forma exagerada de otimismo que não tem qualquer justificação
de conduta normal, já que se torna uma euforia, responsável pela alteração do
senso da realidade. Perde-se, nesse estado, o contorno do que é real e passa-se
ao exagero, tornando-se irresponsável em relação aos próprios atos, já que tudo
entende como de fácil manejo e definição. Em tal situação, quando irrompe a
doença, há uma excitação que conduz o paciente às compras, à agitação, à
insônia, com dificuldades de concentração.
Certamente que
um momento de euforia como outro de mau humor faz parte do processo de se estar
saudável, de comportar-se bem, de encontrar-se em equilíbrio. A permanência num
como noutro comportamento é que denota o desajuste, a disfunção, a desarmonia
emocional.
Diante de uma
pessoa mal-humorada, a primeira ideia que ocorre à família ou aos amigos, é a
de proporcionar-lhe divertimento, mudança de clima psicológico, levando-a a
sorrir, tentando gerar situação agradável ou cômica, que se lhe apresenta
perturbadora, insossa, já que não consegue biologicamente produzir enzimas
propiciadoras do bem-estar.
O distímico[7] sente-se pior, em tal circunstância,
formulando um conceito de culpa perturbador, ao sentir-se responsável por estar
preocupando aqueles que o estimam e o cercam, tornando-se-lhe o lazer proposto
uma experiência ainda mais traumática.
Ante o
insucesso, familiares e amigos recuam e passam à agressão mediante apodos[8], denominando o enfermo como preguiçoso,
indiferente ao afeto que lhe é direcionado, como se ele pudesse alterar de um
para outro momento o estado de enfermidade.
Somente a
paciência familiar e fraternal, o envolvimento afetivo natural, sem exageros
momentâneos nem pseudoterapêuticos, e, concomitantemente a assistência
psiquiátrica podem oferecer os resultados que se desejam, e que são logrados com
vagar. (...)
A distimia e a
euforia são, portanto, doenças da alma, que necessitam de conveniente estudo e
tratamento, por assaltarem um número cada vez maior de pacientes, vitimados por
si mesmos e pelos variados fatores exógenos que a todos envolvem na atualidade.
(Joana de Angelis. Amor, imbatível amor. Cap. 10 –
Doenças da alma. Mau humor)
_______________________________
1 Anedotário:
2 Chalaça: caçoada
grosseira; gozação.
3 Momice: zombaria.
4 Pífio: baixo.
5 Périplo: navegação;
viagem.
6 Multifária: variada;
multiforme.
7 Distímico: sujeito
com transtorno distímico, que se caracteriza por um estado de ânimo
cronicamente depressivo.
8 Apodo: gracejo,
mofa, zombaria.
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