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quarta-feira, 3 de junho de 2015

Humor


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 * PERDA DO SENSO DE HUMOR


Poder encarar as situações vexatórias sem revolta nem autocompaixão, considerando-as fenômenos naturais do processo evolutivo; identificar-se humano e passível de todas as ocorrências; aceitar com bom humor os acontecimentos inusitados e permitir-se sorrir de si mesmo, dos equívocos cometidos e dispondo-se a repará-los, constituem conquistas do auto-amor.

O amor, no seu elenco imenso de expressões, sustenta o senso de humor, facultando ao indivíduo possibilidades enriquecedoras, dentre as quais a alegria da vida como quer que esta se apresente, a compreensão das falhas alheias e próprias, a coragem para repetir as experiências fracassadas, até alcançar o êxito e, sobretudo, o preenchimento dos espaços íntimos com realizações edificantes.

A perda do senso de humor, entre outras causas, resulta do estresse e da amargura, do desgaste das emoções e do vazio existencial, colimando em condutas pessimistas, caracterizadas pela revolta sistemática, a agressividade diante de quaisquer incidentes, ou pelo desânimo, pelo desinteresse em torno das ocorrências. Descaracterizam-se então, os valores perante si mesmo, e as aspirações cedem lugar à acomodação rebelde, conspirando contra as estruturas íntimas.

(...)

O senso de humor estimula ao prosseguimento dos objetivos, vencendo dificuldades e obstáculos com o otimismo de quem confia em si, nas próprias possibilidades e na capacidade de renovar-se para não estacionar. Trata-se de um parâmetro para aquilatar-se a condição em que se encontra e as disponibilidades ao alcance para vencer.

(...)

A vida moderna, com as suas sofisticadas exigências, propicia muitos conflitos que podem ser evitados mediante a autoconsciência e a vivência do senso de humor, isto é, a forma natural e positiva para encarar as ocorrências do cotidiano. Não se trata do humor que decorre do anedotário[1], da chalaça[2], da momice[3], dos relatos pejorativos e de sentido pífio[4].

Mas, dessa autêntica jovialidade para compreender-se e compreender aos demais, encarando a existência com seriedade, mas sem carranca, com alegria, mas sem vulgaridade, emocionalmente receptivo às lições e complexidades dos processos da vida.

A perda desse sentido mergulha o indivíduo no fosso da autodestruição, que arquiteta, conscientemente ou não, como fuga existencial ou capricho infantil, de quem sente falta da mãe superprotetora, anteriormente encarregada de solucionar todos os problemas do filho, o que deu surgimento à insegurança, ao desequilíbrio, não lhe permitindo o desenvolvimento psicológico.

A aquisição como a preservação do senso de humor tornam-se essenciais para a vitória do homem sobre os conflitos modernos e o direcionamento para a conquista da plenitude.

(Joana de Angelis. Amor, imbatível amor. Cap. 7 – Tormentos modernos. Perda do Senso de humor)

 * MAU HUMOR

Realizando um périplo[5] que se inicia na forma de princípio inteligente, o Espírito cresce insculpindo conquistas e desacertos no âmago da sua realidade, definindo formas, contornos e conteúdos, à medida que avança na esteira multifária[6] da evolução.

Cada etapa se assinala por específica realização que se lhe torna patamar de sustentação para novo passo, crescendo, a pouco e pouco, no rumo da autoconquista.

O desenvolvimento psicológico ocorre-lhe lentamente, plasmando-se através das experiências que lhe desabrocham as potências adormecidas e que são elementos constitutivos da sua realidade transcendental.

De acordo com a iluminação, e o discernimento conseguido, adquire consciência de culpa em decorrência dos atos praticados, transferindo para os novos cometimentos a necessidade de recuperação da tranquilidade perdida, que é o recurso hábil para a saúde integral.

O ser essencial é amor, no entanto, no processo de despertamento da sua potencialidade divina, adquire expressões não legítimas, que passam a atormentá-lo, já que fazem parte do processo de maturação através de negatividades, que são o desamor e as máscaras do ego, expressando-se como pseudo-amor.

Face a esses mecanismos, com frequência as insatisfações e conflitos dão curso a estados desagradáveis de comportamento, que se podem transformar em enfermidades da alma, ou, em razão de suas raízes profundas no ser, exteriorizam-se como máscaras do ego, como negatividades, decorrentes dos desequilíbrios da conduta anterior.

O mau humor, que resulta de distúrbios emocionais profundos ou superficiais, se instala de forma sutil e passa a constituir uma expressão constante no comportamento do indivíduo. Pode apresentar-se com caráter transitório ou tornar-se crônico, convertendo-se em verdadeira doença, que exige tratamento continuado e de longo prazo.

Por trazer as matrizes inseridas nos tecidos sutis da realidade espiritual, transfere-se do campo psíquico para a organização somática através da hereditariedade, que responde pela sua fixação profunda, de caráter expiatório.

Em casos tão graves, a terapia psiquiátrica é convocada a auxiliar o paciente, que se lhe deve entregar com cuidado, ao mesmo tempo alterando o modo de encarar a vida, o mundo e as pessoas, mediante cujo esforço renovará as paisagens íntimas e elaborará novos painéis que lhe darão cor e beleza existenciais.

Caracteriza-se o mau humor pela apatia que o indivíduo sente em relação às ocorrências do dia-a-dia, à dificuldade para divertir-se, aos impedimentos psicológicos de atingir metas superiores, de bem desempenhar a função sexual, negando-se à mesma ou atirando-se desordenadamente na busca de satisfações além do limite, mediante mecanismo de fuga em torno da própria problemática. Torna-se, dessa forma, pessoa solitária, egoísta, amarga...

Tais características podem levar a um diagnóstico equivocado de depressão, que se caracteriza por alternâncias de conduta, enquanto que no estado de humor negativo a conduta é qual uma linha reta, desinteressante, sem emoção, permanecendo constante, enquanto que na depressão a mesma desce em fase profunda ou ascende, podendo libertar-se com relativa facilidade.

O oposto, o excesso de humor, também expressa disfunção orgânica, revelando-se em traços da personalidade em forma exagerada de otimismo que não tem qualquer justificação de conduta normal, já que se torna uma euforia, responsável pela alteração do senso da realidade. Perde-se, nesse estado, o contorno do que é real e passa-se ao exagero, tornando-se irresponsável em relação aos próprios atos, já que tudo entende como de fácil manejo e definição. Em tal situação, quando irrompe a doença, há uma excitação que conduz o paciente às compras, à agitação, à insônia, com dificuldades de concentração.

Certamente que um momento de euforia como outro de mau humor faz parte do processo de se estar saudável, de comportar-se bem, de encontrar-se em equilíbrio. A permanência num como noutro comportamento é que denota o desajuste, a disfunção, a desarmonia emocional.

Diante de uma pessoa mal-humorada, a primeira ideia que ocorre à família ou aos amigos, é a de proporcionar-lhe divertimento, mudança de clima psicológico, levando-a a sorrir, tentando gerar situação agradável ou cômica, que se lhe apresenta perturbadora, insossa, já que não consegue biologicamente produzir enzimas propiciadoras do bem-estar.

O distímico[7] sente-se pior, em tal circunstância, formulando um conceito de culpa perturbador, ao sentir-se responsável por estar preocupando aqueles que o estimam e o cercam, tornando-se-lhe o lazer proposto uma experiência ainda mais traumática.

Ante o insucesso, familiares e amigos recuam e passam à agressão mediante apodos[8], denominando o enfermo como preguiçoso, indiferente ao afeto que lhe é direcionado, como se ele pudesse alterar de um para outro momento o estado de enfermidade.

Somente a paciência familiar e fraternal, o envolvimento afetivo natural, sem exageros momentâneos nem pseudoterapêuticos, e, concomitantemente a assistência psiquiátrica podem oferecer os resultados que se desejam, e que são logrados com vagar. (...)

A distimia e a euforia são, portanto, doenças da alma, que necessitam de conveniente estudo e tratamento, por assaltarem um número cada vez maior de pacientes, vitimados por si mesmos e pelos variados fatores exógenos que a todos envolvem na atualidade.

(Joana de Angelis. Amor, imbatível amor. Cap. 10 – Doenças da alma. Mau humor)
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1 Anedotário:
2 Chalaça: caçoada grosseira; gozação.
3 Momice: zombaria.
4 Pífio: baixo.
5 Périplo: navegação; viagem.
6 Multifária: variada; multiforme.
7 Distímico: sujeito com transtorno distímico, que se caracteriza por um estado de ânimo cronicamente depressivo.
8 Apodo: gracejo, mofa, zombaria.

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